1.7.11


Parte 01

Não vou mandar-te flores

Hoje é o dia de esquecer amores

nem vou bater-lhe a porta

Hoje é o dia de deixar-te aflita


Por hora as paixões deixarei

De todos os meus amores fugirei

Por 24 horas não dir-te-ei madrigais
por um dia do meu coração as dores
não ressonarei os ais

Parte 02

Não olhar-te-ei nos olhos
Amaria e se fora minha promessa
Nem tocar-te-ei os dedos
Não fugiria e se fora minha premissa

Para não faltar com a palavra
Usarei o negro manto como refugio

A morte


Parte 03

Ao morrer libertar-me-ei dos fatores presentes.
Liberdade da dor que se sente
Do dia que escorre entre os dedos
E ainda assim a preguiça não me deixa fazer nada.

desistirei de minha sina, e agarrar-te-ei nos braços
seguirei minha lida e comer-te-ei aos pedaços
jogar-te-ei na cama antes que doa-lhe a cabeça

antes que diga-me por vingança.

Não amor.

29.6.11

Quasímodo

I
Sombrio, sincero e sábio.
Sinistro, simples e singelo.
Sinto saudades suas(...).

II
Sinestésico analgésico voraz,
Que de tão feio fede,
Se  toco-lhe os dedos
Geme.

III
E fico fazendo feroz.
Fabrico famílias  fácil(mente),
Fantasio-me de felino.
Furo(r).
A fantástica fronteira final.

IV
Levanto e limpo o lençol,
liturgicamente lavo-me.
Livro-me dos laços lançados.

V
Vou voando viajar,
veloz. Visito a vastidão.
Venenoso vinho vadio,
vejo-lhe(me) vazio varias vezes(...).






28.6.11

'A Gente Viemos' do Inferno

O que mais me incomoda é o simples fato de ter nascido no inferno, porque não em outro planeta? Porque não uma mansão? Busco os deuses todos mas não me basta, busco uma pessoa que viva por mim minha tristeza, que saiba que o meu clamor não é mais que minha vergonha de desistir.

Enquanto saia do quarto que dividia com seus quatro irmãos mais novos, Arthur ouvia atentamente sua mãe sussurrando para Franco seu padrasto na sala onde despertavam de um sono conturbado e pouco reparador:
__ O dinheiro desse mês acabou, se o Arthur for para o sinal todo dia ele acaba perdendo o ano...

O que realmente incomoda é nascido no inferno, num lugar que se resume as entre margens do Tigre e Eufrates. Entende-se por inferno a morada do diabo, que há e não se discute. Eu o vejo em cada janela que se fecha.

Arthur ergue a sua espada, conclama Sir. Lancelot e os demais cavaleiros para a batalha:
__ Por Deus e pela Rainha ataquem!

                O inferno é um lugar,  é como areia movediça, te rouba o movimento aos poucos até que te sufoque. E apesar de incomodado não me movo, afinal o inferno não é tudo quanto há?

                Abrindo o portão de sua casa Arthur é tomado de supetão por um primo que sugere trocar suas balas por pedras, pedras preciosas de cinco dinheiros.
                __ Olha, eu te ponho na boa e você acerta a mercadoria comigo todo dia as seis da tarde certo mano?

                Não fujo do inferno pois é sem fim, sigo roubando setes e pintando beijos, sigo me enganando aceitando amores, de seres incapacitados de amar.
                Porque não outro lugar? Porque não outro planeta? Porque Deus me deixou justamente no inferno? Já não choro, tão pouco estremeço e concluo finalmente que o inferno não é lugar, mas estado de espírito, que em outra galáxia com seres evoluídos eu seria mostro medonho ou macaco de circo.

O inferno vive-se.
                

28.3.11

Corrida Constante



Ele tem um sabor de ira
E é tão doce
Ele gosta de fazer demorar
E ele coloca em cada acorde

Recebemos um "bem-vindos" caloroso, embrulhado em frieza
Ele dará a ela cada coisinha
Canta a canção mais doce para mim
Ela é sua coisinha favorita

Você estará vagando por alguns momentos bonitos
Eu ouço os sinos azuis tocando
Com toque de ventos refrescantes
Sua garganta doída gritando de sua mente furiosa
Essas melodias como o mais fino creme para a pele dela

Ele diz que estaremos curando
E é tão nítido
Eu devo repintar a figura
E colorí-la em arte abstrata

Eu preciso de uma nuvem para pular em cima, algum lugar para sonhar
Para pegar meu próprio sol sintilante
Tons de veludo, quebrando
No meu coração, uma corrida constante

Ele pode providenciar um lugar seguro quando os pensamentos se tornarem pesados
Ele estará carregando-os todos para você
Ele estará envenenando sua mente que ainda cresce
Essas melodias do mais fino creme para a pele dela

Eu tentarei captruar os raios do sol
Eles serão para você, minha menina
Deixe as formas pra lá, esteja brilhando
Você é minha pérola mais brilhante
Você será a princesa dele, na terra dele
Ele te dará cada coisinha
Cerejas da melhor qualidade
Ele fará tudo isso para fazê-la se apegar

21.3.11

Fundo Falso


Toda chama tem algo de azul.

Como bem sei que pode ser

o fundo da alma do poeta,

ou a pétala murcha que toca o chão.

Pode ser que seja passado,

futuro(...).

Apenas uma simples lição:

O azul que toca o chão

Traz consigo a energia que eleva

O Vermelho, o amarelo.

Maior fosse a tora

as fagulhas alcançariam o céu.

E contariam a Deus que são

as gotas do sangue de um homem,

que chora entristecido

a perda da capacidade de amar.

O homem olha o poente.

O dia cessa o choro não.


  

18.3.11

Ode ao Banheiro


Ó banheiro de doce candura.
Ó banheiro do cú sem censura.
Do adolescente com cacete na mão.
Descarga. Cordinha ou botão?

Liberta minh’alma ó tranca mágica!
Daqueles pais de alma pudica.
De para as revistas meladas, visão.
Para o solitário tesão.

Ó santuário de merda e bronha,
que tira da gordinha a vergonha.
E viva sexo sem pica!
És para toda irmã siririca!

És Para o casado refugio,
para o solteiro subterfúgio.
És abrigo nuclear dos punheteiros,
És para o pobre os puteiros.


Biografia resumida.



Já me droguei tanto que o real se foi.
Pra tantas opções uma única escolha.

Fuja.

Já levei tanta pancada e a coisa toda (...).
Engraçado, não me lembro de bater.

Se.

Já trabalhei de me esquecer do tempo.
Mas eu queria estar lá.

For.

Já percebi que tudo que eu odeio,
é parte da minha vida.

Capaz.



17.3.11

Trilogia da Vergonha


O Relógio.

Continuava no canto da sala vivido e barulhento o relógio de pendulo dos meus avós, contando com seus ponteiros cada segundo de sofrimento que tenho nessa casa, cada minuto de aflição, cada hora de desesperança. A vida que me foge entre os dedos vive nos ponteiros do relógio, a coragem que me falta move o seu dourado e barulhento pendulo, enquanto me preparo neste outro canto com as pílulas na mão e uma idéia na cabeça.
A solidão do relógio não é maior que a minha, as dores da minha tristeza se somatisam em agulhadas no meu peito, e um tremor em meus dedos. Funcionasse eu como o relógio estaria balançando feliz, sem importar-me com a musica ou com o reconhecimento alheio, viveria por viver, estaria feliz por estar vivo. Mas de que adianta estar vivo quando já foge tudo de dentro de si? Quando o que resta são apenas pílulas na mão direita, a falta de quem se ama e a dor de ser invisível.
Quanto mais olho para o relógio mais hipnotizo-me com o seu balançar, mas me apego a idéia de que mesmo despretensioso de si ele cumpre seu trabalho, e o faz a 137 anos. Se eu engolir as pílulas em minha mão não chegarei aos 30. Mas eu por outro lado fui apenas pretensão, não realizei nada, não fiz nada eu por outro lado não sou absolutamente nada. Todos festejam o relógio, dizem com ar interessado “que belo relógio é suíço ou alemão?” “ele sempre trabalhou? Já teve alguma peça trocada?” “que belo artefato, fico admirado só de pensar que ele passou por duas guerras” . Encontrei-me com um amigo outro dia ele me saudou, disse que iria até ali e logo voltaria. Espero que alguém fale comigo dês de então.
Olho as pílulas. O sol do poente que entra pela janela velha de madeira da mesma cor do assoalho bate em meu rosto, olho o relógio na parede que não recebe luz, o dourado do pendulo se envelhece a ausência da luz. Estico-me e alcanço o copo de leite e o saco plástico que havia deixado no chão ao meu lado, o leite serve para que eu não vomite, o saco plástico colocado sobre minha cabeça me tomara o ar aos poucos e me dará uma morte menos conturbada, pois quando meu coração desistir já estarei desmaiado.

O velho relógio minha única testemunha. Meu ato mais covarde, meu gesto mais nobre. Boa noite.

As Pessoas


Acordo, lâmpadas brancas e compridas passam rapidamente a frente de meus olhos, tudo é branco. Aposto minhas pernas como o céu não é iluminado por lâmpadas florescentes. Estou em um hospital. Puta que pariu(...).

Acordo novamente vários rostos me fitam enquanto uma mulher mais jovem que eu me fura o braço, ela passa a mão em meu rosto e diz “tudo ficará bem” mal sabe ela o quanto eu quero que ela esteja errada, mal sabe ela o quanto quero morrer. Noto que dentre os rostos que vejo há um velho senhor e vários jovens, notável, estou em um hospital universitário. O homem velho notando o meu despertar diz que minha esposa quer me ver e que ela aguarda na ante sala, respondo-lhe que não desejo ver ninguém mas ele não entende, repito por umas dez vezes, tento gritar mas ele continua não entendendo o que eu digo. O senhor se vira para os mais jovens e ordena “100 de diazepan”.

Afasia, não importa o que eu queira dizer, da minha boca não sai nada inteligível. Minha esposa entra no quarto, corre, me abraça debruçando-se sobre a maca, então de súbito ergue-se e me da um tapa no rosto. Enquanto ela chora tento desculpar-me, sei que fui covarde, mas (...).
As palavras me fogem.

Me fogem as palavras quando eu queria que me fugisse a vida.

Ela então começa a falar as coisas de sempre, as mesmas que somaram tanto na minha decisão de abandonar esse mundo. Ela só preocupa-se em como ela vai explicar aos meus pais, aos seus pais, a meu filho, aos visinhos do condomínio, aos irmãos da igreja a todas as pessoas que me fizeram achar uma mão cheia de pílulas mais atraente do que mais 40 ou 50 anos de vida. Mas lembro-me de que me abraçou quando entrou no quarto, lembro-me também que nesses 5 anos a seu lado ela só me abraçou da mesma forma quando cantei em seu ouvido uma canção do Tim Maia,

Eu amo você, menina
Eu amo você, juro.

Ainda a amo, e sei que se esquecerá rapidamente de mim, todos se esqueceram, essa não é uma tarefa tão difícil, sou morno, médio. Não faço diferença.

Meu filho entra na sala, pela primeira vez envergonho-me do que tentei fazer, ele apenas chora e repete-se dizendo “papai, fala alguma coisa papai” seus olhos de um azul profundo me comovem, digo que o amo, mas é em vão. Não consigo conjurar meus sentimentos em palavras, sigo incompreendido até para os mais próximos, sigo cercado de pessoas armadas até os dentes, sigo aos cuidados de gentis médicos e enfermeiras, mas sigo só.

O Ego


Fecho os olhos, tento desligar-me forçosamente do mundo, não morro, tampouco adormeço e imergido em pensamentos lembro-me que faltavam apenas dois dias pro meu pagamento, eu havia prometido a mim mesmo um novo laptop, o meu já era um problema maior que as soluções que eu vendia, não daria pra comprar um laptop a vista, mas pagaria a metade e parcelaria o resto, os clientes notam a maçãzinha quando você abre o note book, quando não se é o melhor deve-se impressionar pelo equipamento, pela educação, pelos preços. Mas a verdade é que já não suportava o personagem, nunca dei pra essa coisa de analista de negócios, queria ter uma loja de camisas, apenas camisas.
Estou com minha bunda completamente de fora nessa roupa de hospital (lembro-me da loja de camisas), entra na sala um outro medico diz que tive algo no cérebro, me operaram com um cateter, não entendo picas de medicina. Ele pede pra que eu diga meu nome, então ele pede pra que eu diga meu aniversario, ele finalmente me faz a pergunta que eu tanto temia, ele me pergunta o que aconteceu. Eu respondo mesmo sabendo que não era nenhuma novidade. Ele me da um calmante e vou para meu sono.
Eu tocava guitarra na adolescência, eu comi a Karen no primeiro ano, a mais linda garota do colégio, era o rei daquela turma. Fui expulso da escola, viajei até São Paulo onde terminei os estudos e montei uma banda, que tocou até na tv, voltei passei na federal de primeira, fui presidente do DCE dês de o terceiro período. O que aconteceu comigo? Eu já estava morto a anos na verdade, eu e o relógio só estávamos terminando o serviço. Casei-me, tive um filho que graças a Deus é a cara da mãe, administro o negocio dos outros. Meu sogro diz que o que eu faço pra viver é o equivalente a bater punheta com o pau errado, ele nunca me aprovou.

O medico retorna diz que eu terei alta no fim da tarde e que recobrarei plenamente meus sentidos e meu poder de raciocínio em alguns dias, e vira-se para a porta e de lá surgem minha esposa meu filho e meus pais, estes trazem uma sacola enorme com roupas e comida, não me lembro da ultima vez que comi. Ergo-me e pego um dos deliciosos bolinhos de chuva da minha mãe com uma das mãos, enquanto a outra é segurada pelo meu pai que finge ter um cisco no olho, minha esposa separa minha roupa e meu filho a essa altura já deve estar fazendo corrida de cadeiras de roda.

É chegada a hora de partir do hospital, o medico me faz algumas recomendações e diz “cuide-se” enquanto me dirijo com a minha família até a porta, eles sorriem, falam sobre igreja e Deus, eles falam que as coisas serão melhores, eles falam que não irão contar o ocorrido a ninguém. Como eles falam.

Saio do hospital entro no carro do meu pai, lembro-me do velho relógio de pendulo, ponho as mãos no rosto e choro. Choro a vergonha de um homem covarde enquanto noto a cruel conclusão de minha epifania, fui tão incompetente para morrer quanto sou para viver.







5.10.10


Onde no mundo eu fui chegar? Devo ter tropeçado no caminho, mergulhado num lado raso, quebrado o braço, machucado a pele, por uma flor. Ali naquela terra eu não pude ver a nuvem pendurada em cima de mim, e a dança da chuva, só fez transbordar os bueiros. Você podia só me segurar perto e me deixar saber que eu não estou sozinho. Me abraçar e dizer que eu, realmente, nunca fui.

15.9.10

Ei, quando a água cair, apenas pule e veja onde você termina. Quando o mundo girar, apenas acompanhe e veja onde você pertence. Quando o sol surgir, acorde e veja como está seu dia. Quando a lua parecer descansar, esteja pronto para sua vida. Talvez um dia eu acorde, talvez um dia eu encontre, talvez um dia assim, ou um outro, eu estarei bem.